No dia 3 de dezembro de 2025, uma foto tirada na Base Aérea de Natal (RN) viralizou nas redes sociais brasileiras: três enormes Boeing KC-135R Stratotanker da Força Aérea dos Estados Unidos estacionados na pista, dois deles praticamente sem marcas nacionais visíveis.

Em menos de 24 horas, levantou todo tipo de especulação: “aviões sem identificação”, “EUA instalando tanques na América do Sul”, “preparação para conflito”.
A realidade, porém, é bem menos cinematográfica e muito mais interessante do ponto de vista aeronáutico e geopolítico.
Os três KC-135R (um com cauda claramente marcada “AMC 02035” e os outros dois em pintura de baixa visibilidade) pertencem ao Air Mobility Command (AMC) da USAF e estão no Brasil com um único objetivo:
-garantir o reabastecimento em voo de 6 (seis) caças F-16AM/B Fighting Falcon que a Dinamarca está transferindo para a Força Aérea Argentina.
Trata-se da primeira leva dos 24 F-16 adquiridos por Buenos Aires em 2024, num contrato de cerca de US$ 300 milhões.
Como os F-16 usam o sistema de reabastecimento “flying boom” (incompatível com os KC-130H argentinos), a Dinamarca solicitou apoio logístico americano — padrão em operações de ferry de longa distância envolvendo caças da família Viper.
A rota completa da missão até agora:
28 de novembro: saída dos F-16 da Base Aérea de Skrydstrup (Dinamarca)
Escalas técnicas em Zaragoza (Espanha) e Gran Canaria (Ilhas Canárias)
3 de dezembro: travessia do Atlântico com múltiplos reabastecimentos em voo fornecidos pelos KC-135
Pouso conjunto em Natal (RN), autorizado pela Força Aérea Brasileira
Previsão de partida: 5 de dezembro de 2025 rumo à Área de Material Río Cuarto, em Córdoba (Argentina)
Por que três tanques e não dois?
O terceiro KC-135 atua como aeronave de backup, procedimento padrão em missões transoceânicas para garantir redundância caso haja falha mecânica ou meteorológica.
A escolha de Natal não é aleatória: a base brasileira é um dos principais hubs de travessia do Atlântico Sul, com pista longa, infraestrutura para aeronaves pesadas e localização estratégica a meio caminho entre a África/Europa e a América do Sul.
A operação envolve quatro países (Dinamarca, Estados Unidos, Brasil e Argentina) e demonstra, na prática, a cooperação logística que ainda existe entre Washington e Buenos Aires, mesmo em um momento de tensões regionais.
Vale lembrar que a Argentina também adquiriu, via programa FMS americano, dois KC-130H modernizados e solicitou dois KC-135R (ainda não entregues), o que alimentou parte das teorias conspiratórias nas redes.
Resumo dos fatos:
Os aviões são KC-135R Stratotanker da USAF
Missão: apoio ao ferry de seis F-16 dinamarqueses para a Argentina
Localização atual (4 de dezembro): ainda em Natal (RN)
Próximo destino: Córdoba, Argentina (chegada prevista dia 5)
Permanência no Brasil: apenas escala técnica de 48-72 horas
Longe de qualquer cenário de “invasão” ou instalação permanente, trata-se de uma operação rotineira de transporte aéreo militar internacional — daquelas que acontecem dezenas de vezes por ano em todo o mundo, mas que, por envolver caças e tanques americanos em solo brasileiro, acabou ganhando contornos épicos nas redes sociais.
Para os entusiastas, resta a satisfação de registrar uma cena rara: três Stratotankers da USAF juntos na América do Sul, algo que não se via desde os tempos da Operação Southern Partner, há mais de uma década.
Fim da missão previsto para o final da semana, quando os KC-135 levantarão voo de volta aos Estados Unidos e os novos F-16 argentinos começarão sua integração na Força Aérea hermana.
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