A Comissão de Segurança Pública do Senado aprovou na terça-feira (26/8) um pedido para convidar Eduardo Tagliaferro, ex-colaborador do ministro Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a prestar esclarecimentos sobre trocas de mensagens com assessores.
A solicitação foi feita pelo senador Magno Malta (PL-ES) após a publicação de relatórios denominados “Arquivos do 8 de Janeiro”, elaborados pelo jornalista americano Michael Shellenberger. De acordo com Malta, esses documentos indicam “graves indícios” de possíveis irregularidades nas atividades do TSE e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Além de Tagliaferro, outros dois magistrados do gabinete de Moraes no Supremo foram convocados: Marco Antônio Martins Vargas, juiz auxiliar, e Airton Vieira, juiz instrutor. O presidente da Comissão, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), informou que a sessão está agendada para a próxima terça-feira (2/9), às 11h.
A razão apontada por Malta para ouvir Tagliaferro é que a AEED foi instituída para supervisionar a propaganda eleitoral, mas seu papel teria sido “desviado” para conduzir investigações criminais. O senador Magno Malta alega que o juiz Marco Antônio Martins Vargas teria conferido “aparência de legalidade” a documentos e determinações supostamente emitidos pelo gabinete de Moraes.
Já o juiz Airton Vieira, segundo as acusações, teria reconhecido em mensagens a “prática de medidas arbitrárias”, além de ter agido “de forma irregular” em audiências de custódia de indivíduos detidos pelos atos de 8 de janeiro de 2023, fazendo comentários “jocosos”.
Tagliaferro ocupou o cargo de chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do TSE. Na semana passada, ele foi alvo de uma denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por divulgar conversas mantidas com assessores dos tribunais. Residindo atualmente na Itália, Tagliaferro também enfrenta um requerimento de extradição solicitado pelo ministro Alexandre de Moraes. Na segunda-feira (25), o Ministério das Relações Exteriores encaminhou o pedido às autoridades italianas.
Ex-Assessor de Alexandre de Moraes diz que TSE silenciou mais de 3 mil perfis no Brasil
A declaração foi feita nesta quinta-feira (28), durante entrevista ao programa Sem Rodeios, da Gazeta do Povo, no YouTube.
Segundo Tagliaferro, a atuação ocorria em cumprimento a demandas que chegavam ao gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do TSE em 2022. Ele relatou que a equipe sob sua responsabilidade recebia denúncias de supostas publicações falsas a partir de diferentes canais, incluindo servidores do TSE e o próprio gabinete de Moraes.
Mensagens secretas revelam colaboração de deputados com gabinete paralelo do STF
Mensagens obtidas com pela Revista Oeste revelam que parlamentares atuaram como informantes do gabinete paralelo montado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), logo após as eleições de 2022.
Em 5 de novembro daquele ano, o juiz Airton Vieira, assessor judicial de Moraes no STF, relatou em um grupo de WhatsApp ter recebido do deputado federal Nereu Crispim (PSD-RS) um vídeo publicado no perfil da atriz Regina Duarte.
Ao repassar a mensagem, Vieira escreveu: “Se acharem que devem derrubar… rsrsrs”. Apesar da solicitação, a conta da atriz não chegou a ser bloqueada.
As mensagens expõem como integrantes do Congresso Nacional colaboraram com o núcleo paralelo de monitoramento de conteúdos, formado sob influência direta de Moraes, que desde então tem sido alvo de críticas por concentrar poderes e adotar medidas excepcionais no ambiente digital.
Não foi a única vez que Crispim atuou como colaborador: em outras ocasiões, o parlamentar também deu munição ao gabinete paralelo. “Eduardo, veja o que podemos fazer”, escreveu Vieira, ao citar uma publicação nas redes sociais. Não foi possível identificar o alvo do monitoramento. “Recebi do deputado federal Nereu Crispim”, acrescentou Vieira. “É absurdo!”

Alexandre Frota ajudou o gabinete paralelo de Alexandre de Moraes
Em 12 de novembro de 2022, Vieira relatou uma nova colaboração. Desta vez, o denunciante foi o então deputado federal Alexandre Frota, então filiado ao PSDB e que hoje é vereador de Cotia (SP) pelo PDT. O material enviado pelo parlamentar era um tuíte do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP). “É uma diplomação histórica…zero de legitimidade e recorde de membros do PCC se adulando”, dizia a postagem. Logo depois de encaminhar o link no grupo de WhatsApp, Vieira disse: “É muito grave a fala desse deputado. Recebi do deputado federal Alexandre Frota. Tem a ver com a diplomação. Acho que o assunto pode ser do TSE.”

Dois dias depois, enquanto o gabinete paralelo discutia eventual bloqueio das contas do cantor gospel Davi Sacer, Vieira disse que recebeu outro material enviado por Frota. Não se sabe o que havia nas mensagens. “Nossa, vai ser terrível”, escreveu Tagliaferro, ao desaconselhar a punição a Davi Sacer. “Se preparem kkk.”

