MUDOU DE OPINIÃO: Agora Lula diz que BRICS não nasceu para afrontar ninguém

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Uma fala na Malásia completamente diferente do que o petista já afirmou anteriormente sobre os BRICS

O petista Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (27/10), na abertura da 47ª Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), em Kuala Lumpur, na Malásia, que o bloco dos Brics “não nasceu para afrontar ninguém”.

“O Brics, que tem a honra de contar com países da região entre seus membros e parceiros, é um veículo para uma governança global mais representativa. O Brics não nasceu para afrontar ninguém”, ressaltou Lula.

Em discurso, o petista destacou a aproximação entre o sudeste asiático e o Brasil, e disse que conta com o apoio da Ásia do Leste para fortalecer as respostas multilaterias à mudança do clima, em referência ao início da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) – que será realizada entre 10 e 21 de novembro, em Belém (PA).

Leia o discurso de Lula na íntegra:

Quero agradecer à Malásia pela oportunidade de me dirigir aos líderes da Ásia do Leste. Ao criar este foro, a Asean fez da Ásia do Leste mais do que uma área no mapa. Ela reconheceu uma nova realidade geoeconômica e geopolítica global e se posicionou no seu centro. Não é novidade dizer que o eixo dinâmico do mundo se deslocou para a Ásia. Nove dos 10 maiores portos marítimos do mundo estão na região. A região abriga 60% da população mundial.

O princípio da centralidade da Asean, que o Brasil respeita e apoia, é fator de equilíbrio nas transformações que o mundo atravessa. A adesão de Timor Leste, nosso país irmão, que saudamos com alegria, fortalece os elos entre nós. Somos países biodiversos, com culturas plurais, histórias entrelaçadas e desafios comuns.

Partilhamos a convicção de que um mundo multipolar é mais propício à paz do que um planeta dividido por rivalidades estratégicas. Consideramos a cooperação um caminho mais promissor para a prosperidade do que a competição. Os mares que nos circundam não podem se tornar palco de violações do direito internacional. Os minerais estratégicos que possuímos não devem enriquecer outras nações às custas do nosso desenvolvimento.

A Asean e o Brasil são antípodas na geografia, mas não em sua visão de mundo. Estamos lado a lado em favor de uma ordem internacional justa, regidas por regras acordadas coletivamente e aplicáveis a todos. A aproximação entre o sudeste asiático e o Brasil, de leste a oeste, é crucial para a defesa do multilateralismo. Não por acaso, as duas ideias que inspiram a presidência malásia da Asean – inclusividade e sustentabilidade – são as mesmas que guiaram as presidências brasileiras do G20 e do Brics.

O Brics, que tem a honra de contar com países da região entre seus membros e parceiros, é um veículo para uma governança global mais representativa. O Brics não nasceu para afrontar ninguém. Neste ano, alcançamos posições comuns em favor do tratamento multilateral da inteligência artificial, da ampliação do financiamento climático e da eliminação de doenças socialmente determinadas. Lutar pela reforma das instituições multilaterais não nos impede de construir soluções próprias. O Novo Banco de Desenvolvimento tem suprido as lacunas deixadas pelas instituições de Bretton Woods.

O fortalecimento do comércio intra-Brics ocupa o vácuo aberto por medidas unilaterais e pelo esvaziamento da OMC. Alinhamentos automáticos e situações de dependência são armadilhas das quais o Sul Global precisa escapar. Diversificar relações é sinônimo de autonomia. Em um cenário de instabilidade, nossa proteção mais efetiva é expandir o leque de países com quem mantemos diálogo e fazemos negócios. A aproximação entre a Asean e o Mercosul tem potencial para integrar as cadeias produtivas de duas regiões de grande complementaridade econômica.

Senhoras e senhores, dentro de poucos dias, a Amazônia será o centro do planeta. A COP30 será a COP da verdade. Quando os líderes mundiais se reunirem em Belém, não poderão negar os fatos. Mesmo com as novas Contribuições Nacionalmente Determinadas, ainda caminhamos para um aumento de temperatura superior a dois graus. Não é hora de abandonar o Acordo de Paris. Sem ele, perderemos nossa bússola. É impossível falar de resiliência econômica em meio a uma crise climática. Cada grau adicional na temperatura média global representará perdas significativas no PIB mundial. Não se trata de um simples número. Trata-se de milhões de pessoas que serão empurradas para a fome e a pobreza.

É lamentável que a adoção do Marco de Emissões Zero da Organização Marítima Internacional tenha sido adiada. A transição energética é irreversível. Ela representa não apenas um imperativo climático, mas uma oportunidade econômica. O Brasil vai lançar duas iniciativas que reconhecem esse potencial. A primeira é a Declaração para Quadruplicar o uso de Combustíveis Sustentáveis até 2035, com medidas para acelerar a transição para longe dos combustíveis fósseis. A crescente produção de bioenergia no sudeste asiático torna a região um aliado natural nesse esforço.

A segunda é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (o TFFF), que vai beneficiar as nações da Bacia do Bornéu-Mekong, do Congo e da Amazônia. Trata-se de um mecanismo inovador, baseado não em doações, mas em investimentos, que vai remunerar tanto os países que contribuem, quanto os que preservam suas florestas. Contamos com o apoio da Ásia do Leste para fortalecer as respostas multilaterais à mudança do clima.

O Brasil tem orgulho de ser Parceiro de Diálogo Setorial da Asean e quer expandir a cooperação segundo o Plano de Ação 2024-2028. Os países da Ásia do Leste têm em nós um parceiro confiável e comprometido com a construção de um mundo mais inclusivo e sustentável.

Confira as fala recentes de Lula sobre o BRICS:

07/07/2025: Reação à declaração de Trump sobre tarifas; reportada pela BBC News Brasil

"O Brics não nasceu para afrontar ninguém. [...] O mundo não quer 'imperador'."
Defende o BRICS como não agressivo, mas critica implicitamente os EUA como "imperador" que impõe tarifas por ciúmes de uma ordem multipolar, após Trump prometer punir membros do bloco por reduzir o uso do dólar.

07/07/2025: Reação à declaração de Trump sobre tarifas; reportada pela BBC News Brasil

"O Brics não nasceu para afrontar ninguém. [...] O mundo não quer 'imperador'."
Defende o BRICS como não agressivo, mas critica implicitamente os EUA como "imperador" que impõe tarifas por ciúmes de uma ordem multipolar, após Trump prometer punir membros do bloco por reduzir o uso do dólar.


08/07/2025: Declaração à imprensa após visita do primeiro-ministro indiano Narendra Modi (Brasília); reportada pelo G1

"Lula afirmou que os países do Brics não aceitam 'nenhuma reclamação' vinda do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a cúpula."
Resposta direta a Trump, que ameaçou tarifas de 10% a países alinhados ao BRICS. Enfatiza que o bloco não tolera interferências, reforçando soberania contra "políticas antiamericanas" acusadas pelo presidente dos EUA


12/08/2025: Entrevista ao programa "É da Coisa", de Reinaldo Azevedo, na Rádio BandNews (São Paulo)

"Eu acho que os Estados Unidos têm um pouco ciúme da participação do Brasil no Brics. Porque da mesma forma que nós criamos o Brics, nós criamos o G20. É importante a gente não esquecer que o Brics foi criado, que o G20 foi criado por conta da crise causada pelos Estados Unidos com o subprime em 2008."
Acusa os EUA de "ciúmes" pela liderança brasileira no BRICS e culpa o país pela crise de 2008, justificando a necessidade de alternativas ao dólar e negociações autônomas no bloco.


08/09/2025: Reunião virtual de líderes do BRICS (iniciativa de Lula, como presidente do bloco)


"Diante da crescente instabilidade internacional, tanto no campo econômico como no político, reafirmamos nosso compromisso com a preservação e o fortalecimento do multilateralismo, bem como com a reforma das instituições internacionais. [...] Houve consenso sobre a necessidade de avançar rumo a uma ordem internacional mais justa, equilibrada e inclusiva [...] e sobre como enfrentar os riscos associados ao recrudescimento de medidas unilaterais, inclusive no comércio internacional."

Crítica a "medidas unilaterais" (como tarifas de Trump de 50% sobre produtos brasileiros, em vigor desde agosto). Defende reforma de instituições como FMI e OMC, vistas como dominadas pelos EUA, e solidariedade no BRICS contra sanções.


reginaldod
reginaldod 6 dias atrás
Quem tem .. tem medo.
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